Porra que fome!
Ora cá está ela ,
esta merda de fome,
Que não é fome, não é nada.
Está nas minhas veias,
Seca-me a garganta,
Dá-me calores e dá-me frios,
Aumenta ainda mais os meus vazios,
Hoje em dia mais profundos.
Aumenta a minha irritação,
Que em muito é parecida com tesão,
Uns tabefes nas nádegas,
Umas trincas bem acesas nos mamilos,
Um ofegante respirar no ouvido,
Uma fome natural,
E tal como a alimentar,
Parece insaciável,
É interminável,
Quando é bom nunca queremos que acabe,
Queremos que imenso tempo dure,
E, na verdade a duração,
É apenas ilusão,
Não há foda boa,
a que para sempre perdure.
Não há lata de chantilly,
tablet de chocolate ou gelado, interminável.
Não há leite,
Ou cereais que não acabem.
Não há noites sem insónias,
Não há quarentena sem lágrimas,
Não há pedaços de mim,
Que não se sintam miseráveis.
E em revolta tanto escrevo,
As palavras parecem ser inesgotáveis.
E marchando mais uma taça de cereias,
Parecem-me tornar os móveis afáveis.
Até as luzes uns bons mimos,
E ainda temos tanto que esperar,
para saber a realidade dos nossos destinos...